Quase tudo pronto para 2 de fevereiro, Festa de Iemanjá

Foto: Romildo de Jesus/Tribuna da Bahia

Está quase tudo pronto para dar início aos festejos em homenagem a Iemanjá, celebrada no dia 2 de fevereiro, domingo próximo. O caramanchão que abrigará o presente principal da Rainha do Mar recebe os retoques finais, montado ao lado da Colônia de Pescadores Z1, associação que organiza a festa e estima receber cerca de 800 mil pessoas.

E esse ano a data será ainda mais especial: o festejo foi reconhecido como Patrimônio Cultural de Salvador. Um ato solene será realizado no sábado (1º), na colônia, para oficializar o título. Estarão presentes o prefeito ACM Neto (DEM) e o presidente da Fundação Gregório de Mattos, Fernando Guerreiro, além de outras autoridades, religiosos e devotos.

Após a concessão do registro, a FGM tem o compromisso de produzir um Plano de Salvaguarda. O documento será elaborado junto com pescadores, visando a elaboração de conhecimento, fortalecimento e divulgação da festa.

Madrugada – A programação oficial da Festa de Iemanjá começam um dia antes, no sábado, quando as ruas do Rio Vermelho começam a ser tomadas por fiéis, simpatizantes e demais baianos e turistas que consideram o evento uma das principais manifestações religiosas do país. 

Na madrugada de sábado para domingo, o bairro mais boêmio de Salvador vira um verdadeiro Carnaval, quando sagrado e profano se misturam. Milhares de pessoas se reúne acompanhando as manifestações religiosas, que inclui desfiles de grupos diversos com balaios e presentes que serão levados para Iemanjá. Na programação oficial do evento, consta que a abertura do caramanchão para receber as oferendas ocorrerá a partir das 7h do dia 1º de fevereiro.  

No domingo, dia 2, uma alvorada de fogos de artifícios às 5h marca a chegada do presente principal, um segredo mantido a sete chaves pela Colônia de Pescadores Z1, sendo revelado apenas no grande dia. Antes disso, às 2h30, no Dique do Tororó, será realizada uma manifestação religiosa em homenagem a Oxum, a orixá das águas doces. 

O presente principal, além dos demais balaios e presentes, serão levados para a Rainha do Mar a partir das 15h30. Centenas de embarcações saem da Praia da Paciência para entregar os presentes no fundo do mar. O festejo será encerrado oficialmente às 18h. Tradicionalmente, contudo, a parte profana continua noite a dentro. 

A festa que homenageia a Rainha do Mar atrai pessoas de todos os cantos do mundo. Antes mesmo do grande dia, devotos começam a visitar a Casa de Iemanjá, no Rio Vermelho, para acender velas e fazer suas preces. Foi o caso de Elisabete Brandão, 56 anos, e Vanessa Brandão, 25, que estiveram no Rio Vermelho na quarta-feira (29).

“É uma das festas mais bonitas que já vi. Iemanjá é natureza, tudo que o universo tem de bom. Não sei se poderei vir no domingo, por isso decidi antecipar”, disse Elisabete, antes de acender uma vela de sete dias e fazer suas preces. “Iemanjá representa energia, energia muito boa”, completou Vanessa.

Patrimônio Cultural de Salvador

Realizado há 95 anos, o festejo passou por processo de reconhecimento como patrimônio cultural atendendo a um pedido da Comissão de Responsabilidade Social da Ordem dos Advogados do Brasil – Secção Bahia.

À reportagem, a conselheira Roberta Casali, presidente da comissão, informou que a Fundação Gregório de Matos emitiu parecer favorável ao pedido no dia 15 de janeiro deste ano.

“Os bens culturais inscritos nos Livros de Registros da FGM deverão ser objeto de um plano de salvaguarda com base no diagnóstico participativo e nas recomendações arroladas no processo de registro. Ações de salvaguarda envolverão pecadores e o povo do Axé visando apoio à sustentabilidade da Festa, melhoria das condições sociais e materiais de sua transmissão e preservação”, explicou.

Rainha do Mar

Branco também lembrou da alegria compartilhada na festa, o que considera ser um dos destaques para o sucesso. “Seja de qual canto do mundo que seja, a maioria das pessoas que frequentam a festa se sente regozijada.

Quando vem para a Casinha de Yayá, como chamamos a casa ali no Rio Vermelho, é uma alegria. Eu mesmo já tive diversos pintores da França, Holanda, de diversos lugares pedindo espaço para retrataram em seus quadros os procedimentos que estão ocorrendo naquele momento.

É uma coisa tão maravilhosa. As pessoas procuram, solicitando que sejam entregues as oferendas, que são de todos os tipos. A gente coloca no caramanchão e leva tudo para colocar no fundo do fundo do fundo do balaio principal”, afirmou.

Organizando a festa há anos, ele fez questão de lembrar quando tudo começou, em 1924: “A pesca ficou muito escassa, um grupo de pescadores, na sua grande totalidade, naquele ano estavam com grande maioria negros alforriados, de uma família de sobrenome ‘Moita’, não conseguiram capturar o pescador, deixando os moradores sem o peixe fresco.

A alternativa que eles tiveram foi fazer um livro de ouro, onde foi passado por todos os moradores e veranistas da enseada do Rio Vermelho. Com a arrecadação, contratou uma mãe de Santo chamada ‘Juia de Bogum’ para fazer os procedimentos do axé.

Subsequentemente, no dia 2 de Fevereiro, às dez da manhã, respeitando todos os procedimentos da seita, lançaram-se ao mar com uma caixa de sapatos, evidentemente forrada com papel celofane. Num determinado momento, pediram à rainha do mar, mãe das águas, que fizesse com que os peixes retornassem. Um único dia após, o peixe retornou com grande fartura para alegria de todos”, contou.

(Bahia.Ba)

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