Violência e desigualdade de gênero afetam mulheres mesmo dentro da família, diz relatório da ONU

Foto: Mike Hutchings/Reuters
Foto: Mike Hutchings/Reuters

Mesmo dentro da família, mulheres continuam sofrendo violência e desigualdade de gênero: é o que aponta um relatório da ONU Mulheres divulgado nesta terça-feira (25), com o título “O Progresso das Mulheres no Mundo 2019-2020: Famílias em um mundo em mudança”. “Famílias são um fator que faz a diferença para meninas e mulheres. Nenhuma instituição tem mais significância para nós do que a família — é o lugar para onde vamos para sermos nutridas e recebermos apoio”, afirmou Phumzile Mlambo-Ngcuka, diretora executiva da ONU Mulheres, durante a cerimônia de lançamento do relatório. Mas nem sempre esse apoio é encontrado, mostra o relatório. Entre as principais conclusões da ONU estão a divisão desigual da renda familiar — as mulheres ainda contribuem com menos de metade dela e acumulam ainda menos bens. O trabalho de cuidadora, seja de filhos ou parentes idosos, continua sendo atribuição feminina, o que também prejudica a capacidade das mulheres de ter a própria renda e aumenta a desigualdade salarial. A violência no âmbito familiar também atinge as mulheres: em 2017, cerca de 58% das mulheres vítimas de homicídio foram mortas por um membro da família – cerca de 137 por dia, diz a organização, que analisou 86 países. Além disso, 3 bilhões de mulheres e meninas vivem em países onde o estupro no casamento não é explicitamente tipificado como crime. “As estatísticas mostram que a casa pode ser o lugar de maior violência para mulheres”, afirmou Phumzile Mlambo-Ngcuka, diretora executiva da ONU Mulheres, durante a cerimônia de lançamento do relatório.

Casamento e força de trabalho

A composição das famílias no mundo todo também mudou, assim como a idade ao casar, que aumentou globalmente. As taxas de fecundidade diminuíram e as mulheres ganharam autonomia econômica, mesmo que ainda limitada pela desigualdade na distribuição na renda familiar.

O casamento parece diminuir a participação feminina na força de trabalho, segundo o relatório — enquanto tem o efeito oposto nos homens. De 93 países analisados, apenas 52% das mulheres casadas ou em algum tipo de união está no mercado de trabalho. Em comparação,96% dos homens na mesma situação está empregado. A maior percentagem de mulheres que trabalham está entre as que são divorciadas ou separadas: cerca de 73%. Ao todo, 55 a cada 100 mulheres em todo o mundo está na força de trabalho, segundo uma análise feita em 93 países. Entre os homens, esse número é de 94 a cada 100. Por outro lado, mais mulheres estão optando por não casar. Essa porcentagem, em 2010, era maior na Austrália e na Nova Zelândia, onde chegou a 14%.

Filhos

A média de filhos por mulher também tem relação com o casamento. Em lugares com menor idade ao casar, aumenta o número de filhos.Na África sub-saariana, esse número, chamado de taxa de fecundidade, é de 4,7. Já na América do Norte e na Europa, cai para 1,7. Nas casas em que mulheres são as únicas responsáveis pelos filhos, o risco de pobreza é maior, diz o relatório. A região da América Latina e do Caribe tem a maior taxa de famílias nessa situação: 11% (acima da média mundial, que é de 8%). As mulheres também são a maioria dos responsáveis “solo” por crianças: 84,3%. Quando elas permanecem nos relacionamentos, ficam com a maior parte das tarefas de cuidado — da casa e de outros membros da família, como filhos e parentes idosos. Essas atribuições aumentam quanto mais novos forem os filhos. Na Argélia e na Tunísia, mulheres casadas realizam duas vezes mais esses tipos de tarefas do que as solteiras, por exemplo. (G1)

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