O governador do Rio, Wilson Witzel, criticou o presidente Jair Bolsonaro e os rumos do governo federal em diferentes áreas, incluindo o “neoliberalismo” representado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Sobre a retórica de Bolsonaro, Witzel disse que ela se compara a discursos de líderes autoritários.
“Típico de (Alberto) Fujimori, (Recep Tayyip) Erdogan, o outro maluco lá da Venezuela… (Hugo) Chávez.” O governador citou o livro Como as Democracias Morrem para embasar sua crítica. “É um vocabulário (o de Bolsonaro) de quem não respeita a diversidade de opiniões”, disse.
Bolsonaro, de acordo com o antigo aliado, não se preparou para o cargo e não consegue conversar sobre economia e reformas, por exemplo. “Isso é evidente. A pauta dele é muito mais ideológica do que concreta”, afirmou Witzel.
Eleito na esteira do bolsonarismo em 2018, o mandatário fluminense entrou em atrito com a família presidencial desde que manifestou o desejo de concorrer à Presidência em 2022. A briga piorou com os desdobramentos da investigação sobre o assassinato de Marielle Franco.
Durante um café da manhã com a imprensa, convocado para apresentar um balanço do primeiro ano de gestão à frente do Palácio Guanabara, Witzel adotou uma linha que configura sua faceta mais moderada desde que assumiu o mandato. Após ser eleito, o governador chegou a falar, por exemplo, em “mirar na cabecinha” e atirar. A entonação bélica com o microfone em mãos deu lugar a uma fala mais sóbria e elucidativa.
Witzel destacou, ao esmiuçar seu atual projeto de Brasil, a importância de se pensar no social e criticou as propostas de Paulo Guedes — entre elas o pacto federativo, que estariam levando o País a uma “direção equivocada”.
Ao analisar a conjuntura da América do Sul, principalmente a convulsão social chilena, disse ainda que a política econômica de Guedes não pode pensar apenas na contenção de despesas, deixando de lado políticas de bem-estar. Guedes, contudo, é elogiado pelo governador por sua receptividade e pela capacidade de diálogo — o oposto, segundo ele, de Bolsonaro.
Apesar de tecer uma série de análises sobre o País, com discurso cada vez mais ao centro, Witzel não confirmou sua candidatura presidencial em 2022. “Sou candidato a governar bem o Rio de Janeiro”, desconversou. Como justificativa para falar tanto sobre o Brasil, lembrou que é presidente de honra do seu partido, o PSC, e que por isso é uma liderança nacional.
O governador comentou, inclusive, que há uma proposta de fusão entre o PSC e o PSL, antigo partido de Bolsonaro. “Estamos analisando, vamos conversar. Temos que avaliar. O PSC tem uma tradição de longa data.”
Com posição ainda incerta sobre a eleição municipal do ano que vem na capital fluminense, Witzel garantiu que o PSC terá candidato próprio, mas não cravou um nome e balançou ao falar sobre a possibilidade de apoiar o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM). O governador tem elogiado o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que é do Rio e correligionário de Paes. O DEM está na base do governo estadual, apesar de Witzel ter disputado com o ex-prefeito o segundo turno da eleição do ano passado.
Além de abordar temas políticos, Witzel comentou dados e fez um balanço do primeiro ano de gestão. Apesar de a segurança pública ser a principal bandeira do governador, ela não teve tanto protagonismo na conversa — o governador não comemoroucom veemência ações policiais nem citou números superlativos. Em um momento que ilustra a tentativa de dar essa guinada na sua imagem, o mandatário lamentou as mortes decorrentes de ações nas favelas.
No café com os jornalistas, que durou mais de uma hora, o governador do Rio sentou entre quatro figuras-chave de sua gestão. De um lado, a esposa Helena Witzel, muito presente nos bastidores do Palácio Guanabara, e o secretário de Governo e Relações Institucionais, Cleiton Rodrigues; do outro, o vice-governador, Cláudio Castro, e o secretário de Casa Civil, André Moura, braço político do governo e ex-deputado federal.
Witzel também foi perguntado sobre a crise da saúde no município do Rio, que tem emparedado o prefeito Marcelo Crivella (PRB). O governador disse que não pode emprestar dinheiro de modo inconsequente para a capital e esquecer de outros municípios, até porque o Estado está no Regime de Recuperação Fiscal. E foi justamente este o caminho sugerido por Witzel a Crivella: estudar a possibilidade de aderir ao Regime. (Politica Livre)