76% dos empreendedores não conseguem empréstimos

Foto: Reprodução

Alimentar o fluxo de caixa, evitar demissões, não encerrar as atividades… As linhas de crédito se tornaram uma opção de grande valia para que os pequenos negócios sobrevivam à Covid-19. Os bancos têm procurado facilitar o acesso, mas isso tem funcionado? Talvez não muito, já que, de acordo com o Sebrae, 76% dos empreendedores baianos não conseguiram resposta positiva ao solicitar empréstimo nos bancos.

“Na realidade, esse número não é muito diferente de antes da pandemia. Os bancos estão flexíveis, mas precisam de reciprocidade e garantia. Ainda são inúmeras as exigências, assim como são muitas as pequenas empresas que, ao misturarem pessoas física e jurídica, acabam endividadas e minando suas chances de crédito”, afirma Isabel Ribeiro, gerente da Unidade de Gestão Estratégica do Sebrae Bahia.

E a baixa educação financeira do brasileiro é a grande culpada. Por não se planejar a curto prazo, os empreendedores têm uma dificuldade ainda maior para planos a médio e longo prazos. Por isso, afirma Isabel, é preciso olhar com profissionalismo para o negócio. Olhar que José Ronaldo Santana Carneiro, proprietário da churrascaria Búfalo Grill (@brotasbufalogrill), tem tido.

É preciso saber o tempo certo de solicitar esse crédito, afirma José Ronaldo, ou ele se torna um problema e não a solução. “Meu plano é pedir quando as coisas estiverem normalizando, para impulsionar o fluxo de caixa. Não tem sentido algum eu pedir agora e iniciar outra dívida. Estamos funcionando, mas não temos para quem vender, não como antes”.

A Búfalo Grill reduziu o pessoal e está funcionando com delivery e retirada na churrascaria, medidas semelhantes às do empresário Tiago da Silva Chagas, proprietário da Armazém

Fit Store (@armazemfitstore.salvador), em Ondina. Fechada para o público, a loja de produtos naturais está atendendo por delivery e retirada na loja por drive-thru. Linha de crédito? Talvez.

Tempo da pandemia

Com o novo atendimento e rodízio de funcionários, a Armazém tem conseguido gerar um fluxo de caixa mínimo. Porém Tiago não descarta a possibilidade de solicitar crédito. “Tudo vai depender do tempo que a pandemia durar. Esse dinheiro seria principalmente para manter os compromissos feitos antes da pandemia, a exemplo de alguns fornecedores”.

“Se não precisa, não pegue agora”, enfatiza o educador financeiro e economista Edval Landulfo. “Se por algum motivo você acredita que vai precisar de dinheiro mais para frente, aguarde esse momento. Novas linhas de crédito virão. Mesmo que a taxa de juros seja pequena, ainda é uma taxa. Se no momento seu negócio está conseguindo se virar, espere e solicite apenas quando for, literalmente, necessário”.

Mas para alguns, a necessidade veio agora. Dono da LCA Cosméticos, Rodrigo Menezes fornecia seus produtos principalmente para lojas em shoppings e clínicas. Com o fechamento temporário de grande parte de seus clientes, ele decidiu solicitar uma linha de crédito no Banco do Nordeste para manter as contas da empresa em dia e evitar demissões.

“Foi um baque, e a pior parte é que o isolamento não tem dia para acabar. Fizemos o empréstimo para manter nossas obrigações e o conseguimos bem rápido. Solicitamos numa quarta e na terça seguinte ele estava liberado”, conta.

As iniciativas dos bancos para flexibilizar serviços estão aumentando, no entanto, para Carlos de Souza Andrade, presidente da Fecomércio-BA, ainda há muito que se possa fazer.

“Os bancos públicos têm mostrado boa vontade em tentar facilitar o acesso dos empreendedores ao crédito, mas a burocracia ainda é um grande empecilho, ainda mais em tempos como este. Os privados também têm se flexibilizado, mas ainda podem fazer muito mais quanto a carência e juros, principalmente por serem ágeis quanto à burocracia”, diz. (A Tarde)

google news