Falta de compromisso, impaciência, desobediência. Essas são algumas características que muitas pessoas associam à Geração Z, que inclui os nascidos entre 1997 e 2010, no ambiente de trabalho. De acordo com o relatório “Tendências de Gestão de Pessoas”, do Ecossistema Great People & GPTW, 68% dos colegas de trabalho acham difícil lidar com esses jovens no dia a dia.
No entanto, esse grupo também tem qualidades que podem ser muito valiosas para as empresas. “A integração entre diferentes gerações é muito importante. Com o uso crescente de novas ferramentas, como a Inteligência Artificial, os profissionais da Geração Z têm mais chances de se adaptar e crescer no mercado”, comenta Giovanni Santos, diretor da escola de negócios Febracis, no Distrito Federal.
Santos acredita que o maior desafio ao liderar a Geração Z, como é chamada, é adaptar a cultura rígida das empresas ao estilo desses novos profissionais. Afonso Almeida, psicólogo e gerente de carreiras do Instituto Evaldo Lodi (IEL), concorda: “É um desafio para ambos os lados. Enquanto os empregadores procuram talentos que combinem com suas empresas, esses jovens querem empregos que permitam criatividade e autenticidade.”
Almeida também destaca que esses jovens profissionais são mais exigentes com as condições de trabalho e têm pouca paciência para esperar pelo desenvolvimento de suas carreiras, buscando resultados e ganhos rápidos. “Essa é uma geração que sabe o que quer e como negociar isso. Se não conseguem o retorno que esperam para a inovação que trazem para a empresa, saem e vão para outra. Muitos até preferem trabalhar por conta própria ou empreender.”
Pensamento Crítico
A Geração Z se destaca no mercado de trabalho não apenas pelo domínio das tecnologias mais recentes, mas também pelo pensamento crítico, segundo Almeida. “Apesar de crescerem em um mundo onde tudo é rápido e imediato, eles têm uma grande capacidade de análise. Por isso, procuram lugares onde suas ideias sejam valorizadas e onde possam manter sua personalidade e autenticidade.”
“Propósito” é outra palavra importante para essa geração, que busca fazer atividades que tenham sentido e alinhar seus objetivos de carreira com seus valores pessoais. “Eles não querem fazer tarefas sem saber qual é o objetivo daquela função”, diz Almeida. É o caso de Helen de Freitas, de 21 anos, que durante seu estágio procurou empresas com uma visão mais ampla de sociedade, não focadas apenas no lucro.
No ano passado, Helen foi uma das vencedoras do Prêmio IEL Jovens Talentos por desenvolver um aplicativo de segurança pública durante seu estágio. “Por causa da violência nas escolas brasileiras, pensei em um app que ajuda as vítimas a chamar a polícia imediatamente, com transmissão de vídeo ao vivo da situação. O design é simples e eficiente, para que as vítimas, já estressadas, não precisem apertar vários botões para pedir ajuda”, conta ela. O aplicativo, que está sendo desenvolvido pela IPQ Tecnologia, também ajuda vítimas de violência doméstica. “Mesmo que o agressor pegue o celular da vítima, a transmissão continua e só pode ser encerrada pelas autoridades que recebem o alerta”, explica Helen.
Tecnologia como Aliada
A chance de desenvolver soluções complexas é uma das coisas que mais motivam Helen em seu estágio, onde está há um ano e meio. “Tudo é mais fácil na minha geração, com a internet e as redes sociais, e agora a IA automatizando tudo. Por isso, precisamos de desafios. Isso nos ajuda a lidar com as alegrias e frustrações.”
Caio César Silva, de 22 anos, recém-formado em Segurança do Trabalho, também tem um perfil “determinado a resolver problemas”. Ele foi premiado no Jovens Talentos do IEL em 2023 por implementar soluções inovadoras na empresa em que estagiava. “Quando o analista saiu de férias, eu, como estagiário, dei conta das tarefas dele. Meu objetivo é alcançar independência financeira, então preciso fazer um pouco mais”, conta.
Caio é um exemplo das características profissionais de sua geração: pensamento crítico, agilidade para pensar em novas soluções e busca por reconhecimento. “Eu queria ser contratado naquela empresa, mas por ter 20 e poucos anos, sentia que era tratado como criança, sempre puxavam as rédeas. Hoje, quero trabalhar com horários flexíveis, com autonomia para ser responsável pelo resultado do que faço. Não acho que o trabalho seja o mais importante da minha vida, mas isso não me impede de dar o melhor de mim”, diz.
Para se adaptar a um mercado em constante mudança com a chegada desses jovens talentos, as empresas mais estratégicas têm investido no que Afonso Almeida chama de “RH ambidestro”, que foca no recrutamento e manutenção de bons profissionais, enquanto também trabalha com consultores, freelancers e contratos temporários ou por projetos. “A pandemia de Covid-19 deixou uma mensagem clara: o mais importante é que as pessoas cuidem de si mesmas, em vez de dedicarem tanto tempo e energia ao trabalho. As empresas que melhor se adaptarem a isso terão o melhor desempenho nesse novo cenário”, conclui Almeida.