Israel e o Hamas, o movimento islâmico no poder na Faixa de Gaza, aprovaram um cessar-fogo com o objetivo de encerrar 11 de combates sangrentos na região. “O gabinete (de segurança) aceitou unanimemente a recomendação dos oficiais de segurança de aprovar a iniciativa egípcia de um cessar-fogo bilateral sem condições”, disseram as autoridades israelenses em um comunicado. Na Faixa de Gaza, o Hamas confirmou a entrada em vigor desta trégua a partir das 2h de sexta-feira (hora local, 20h desta quinta-feira de Brasília). A Jihad Islâmica, segundo grupo armado do território palestino, confirmou a trégua.
O gabinete do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, aprovou a trégua após a forte pressão dos Estados Unidos para interromper a ofensiva. Na quarta-feira, em um telefonema ao premiê, o presidente americano, Joe Biden, pediu a redução das hostilidades. Biden deverá fazer um pronunciamento nesta quinta-feira.
Mais cedo, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou ter conversado com o ministro das Relações Exteriores de Israel, Gabi Ashkenazi, e reiterou a mensagem de Biden de que os EUA esperavam ver uma desaceleração do conflito entre israelenses e palestinos. Os líderes israelenses se reuniram nesta quinta-feira, 20, para discutir a ofensiva.
As negociações foram possíveis com a mediação do Egito. O presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sissi, ordenou que duas delegações de segurança fossem para Israel e para os territórios palestinos (Faixa de Gaza e Cisjordânia) e trabalhassem para alcançar o cessar-fogo, como informou a TV estatal egípcia. Diplomatas do Catar e das Nações Unidas também ajudaram na mediação. Hamas nunca reconheceu a existência de Israel, que considera o grupo uma organização terrorista.
Poucos minutos depois dos anúncios, na contagem regressiva para o cessar-fogo, os lados voltaram a se atacar. Sirenes alertaram sobre a chegada de foguetes em comunidades da fronteira israelense, e um repórter da agência de notícias Reuters ouviu um ataque aéreo em Gaza. Não houve notícias imediatas de vítimas. Mais cedo, Israel desencadeou uma onda de ataques aéreos na Faixa de Gaza e o Hamas também promoveu disparos contra o território israelense.
Desde o início dos combates em 10 de maio, as autoridades de saúde em Gaza dizem que 232 palestinos, incluindo 65 crianças e 39 mulheres, foram mortos e mais de 1,9 mil ficaram feridos em bombardeios aéreos.
Israel diz que matou pelo menos 160 combatentes em Gaza. Autoridades em Israel colocam o número de mortos no país em pelo menos 12, com centenas tratadas por ferimentos em ataques de foguetes que causaram pânico e enviaram pessoas correndo para abrigos.
Netanyahu se reuniu na quinta-feira com seu gabinete de segurança para revisar até que ponto os militares tinham atingido o Hamas, incluindo a destruição de sua rede de túneis e seu arsenal de foguetes e lançadores. Ele e outras autoridades israelenses insistiram que o bombardeio de Gaza continuaria enquanto fosse necessário para salvaguardar a segurança israelense.
Acordos de cessar-fogo anteriores entre Israel e Hamas muitas vezes falharam, inclusive em 2014, quando as tréguas ruíram pelo menos duas vezes durante uma guerra de sete semanas. Mas eles podem oferecer períodos de calma para permitir tempo para a negociação de um acordo de longo prazo. Eles também dão aos civis a chance de se reagruparem e permitem que os deslocados voltem para suas casas.
Hamas e Israel estão envolvidos em alguma forma de conflito desde que o grupo palestino foi fundado, na década de 80. Esta rodada específica de ação militar começou quando o Hamas disparou uma enxurrada de foguetes contra Jerusalém em resposta a várias batidas policiais na Esplanada das Mesquitas, onde fica a mesquita de Al-Aqsa, um dos três locais mais sagrados do Islã, e aos despejos planejados de várias famílias palestinas de suas casas na cidade.
Mesmo que a luta pare, suas causas primárias ainda permanecem: a batalha pelo direito à terra em Jerusalém e na Cisjordânia, tensões religiosas na Cidade Velha de Jerusalém e a ausência de um processo de paz para resolver o conflito. Gaza permanece sob um bloqueio punitivo de Israel e Egito.
Embora o conflito tenha forjado um raro momento de unidade entre os palestinos em toda a Cisjordânia, Israel e Gaza, ainda não está claro se isso alterará significativamente sua posição e sentimento de opressão.
O atual conflito também levou a dias de ataques violentos dentro de Israel por grupos árabes e judeus enraivecidos, e destacou décadas de frustração entre os cidadãos árabes de Israel, que representam cerca de 20% da população e enfrentam discriminação frequente.
Estadão Conteúdo