O ex-ministro Sergio Moro entendeu como tentativa de intimidação a requisição de abertura de inquérito feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar as revelações feitas no dia 24 de abril, quando anunciou sua saída do governo. Na peça, Augusto Aras pediu que fosse considerada a linha de investigação dos crimes de denunciação caluniosa e contra a honra, que poderiam ser imputados a Moro devido às revelações.
O também ex-juiz federal revelou que o presidente Jair Bolsonaro não tinha compromisso com combate à corrupção e tentava interferir no comando da Polícia Federal por interesses políticos. Bolsonaro exonerou o delegado Maurício Valeixo e tentou nomear em seu lugar o delegado e amigo da família Alexandre Ramagem. O Supremo, no entanto, barrou a posse do policial.
Em entrevista à Revista Veja, Moro contou que a mudança na Polícia Federal foi a gota d’água para uma situação que se desenhava há algum tempo. Primeiro, com a transferência do Coaf para o Ministério da Economia. Depois, a indiferença de Bolsonaro sobre mudanças feitas pelo Congresso no projeto anticrime.
“É bom ressaltar que o Executivo nunca negociou cargos em troca de apoio, porém mais recentemente observei uma aproximação do governo com alguns políticos com histórico não tão positivo. E, por último, teve esse episódio da demissão do diretor da Polícia Federal sem meu conhecimento. Foi a gota d’água”, explicou.
Embora tenha dito que entende as “prerrogativas importantes” que tem o presidente, Moro entende também que elas devem ser respeitadas, mas não exercidas “arbitrariamente”. Como não teve causa que justificasse a saída de Valeixo, decidiu ele mesmo sair do governo. Na entrevista, o ex-ministro afirmou que mantém o que disse no pronunciamento. Mas esclarecimentos, assim como as provas, serão apresentadas à Justiça quando for solicitado.
Sergio Moro também revelou que ele e sua esposa, Rosângela Moro, estão sendo atacados por apoiadores do presidente da República, e pelo próprio Jair Bolsonaro. Mas, no caso da sua cônjuge, estão confeccionando dossiês com informações falsas sobre ela. O ex-juiz disse ainda que tem medo de sofrer algum atentado, mas prefere não falar sobre o assunto, para não assustar pessoas próximas. (Bahia.Ba)