Padre usava laranjas para ocultar desvio de dinheiro de fiéis, diz juíza

Foto: Divulgação

O padre Robson de Oliveira Pereira, de Goiás, é investigado por suspeita de crime de lavagem de dinheiro, segundo o Ministério Público de Goiás. Uma entidade criada pelo religioso realizou transações imobiliárias suspeitas e o padre comandaria o esquema. As investigações indicam que o padre usava laranjas e empresas de fachada para esconder supostos desvios de doações de fiéis para construção da Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade. O dinheiro foi usado para comprar fazendas, apartamentos e até uma casa de praia em Guarajuba, na Bahia.

Ele era presidente da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), além de outras organizações ligadas à entidade. Por conta da investigação, o padre pediu afastamento dos cargos, mas afirma ser inocente e diz confiar na Justiça. Em vídeo publicado nas redes sociais, ele afirma estar “sereno e confiante” de que tudo será esclarecido e diz que todo dinheiro doado foi usado em atividades religiosas.

Além da Afipe, a Associação Pai Eterno e Perpétuo Socorro, também presidida pelo padre, é alvo da investigação do MP.

Segundo a Justiça, que recebeu a denúncia, o uso de laranjas e empresas da fachada era uma estratégia para tentar dificultar o rastreamento do dinheiro. Os investigados devem ser acusados por apropriação indébita, lavagem de capitais, organização criminosa, sonegação fiscal e falsidade ideológica. 

“De fato, os elementos informativos coletados indicam que as doações feitas por fiéis de todo o país para o custeio das atividades das AFIPES e para o pagamento das obras e projetos de cunho social da mencionada associação, em tese, estão sendo utilizadas para finalidades espúrias, mormente para o pagamento de despesas pessoais dos investigados e para aquisição de imóveis, incluindo várias fazendas e casa de praia, os quais, a princípio, não se destinam ao atendimento dos seus propósitos religiosos”, diz trecho de uma decisão da juíza Placidina Pires, do Tribunal de Justiça de Goías, que autoriza busca e apreensão . O teor foi divulgado pelo Uol.

Como exemplo, a associação comprou um terreno de 3.200 m² por R$ 485 mil, em 2010 e o repassou nove anos depois pelo mesmo preço. Corrigido pela inflação do período, o valor do imóvel estaria avaliado, no mínimo, em R$ 820 mil quando foi para a nova dona, uma administradora de bens. Essa negociação é citada como prática de lavagem de dinheiro. Essa administradora negociou “dezenas de imóveis” com a Afipe, sempre com “evidente prejuízo” para a entidade comandada pelo padre.

O MP aponta movimetações financeiras que chegam a R$ 1,7 bilhão. O promotor de Justiça Sebastião Marcos Martins afirma que nem todo o valor analisado e movimentado é referente a atividades que são agora consideradas ilícitas. A revista Época fala em valores que chegam a R$ 60 milhões. 

Trindade é um dos nomes de destaque do turismo religioso no Brasil atualmente. Padre Robson foi idealizador da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), que nasceu para divulgar a devoção. (Correios)

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