Salvador lidera mortes violentas de pessoas LGBTQIA+ em 2024, aponta levantamento

A violência contra pessoas LGBTQIA+ é reflexo de um preconceito estrutural presente em várias partes do país.

Salvador registrou o maior número de mortes violentas de pessoas LGBTQIA+ entre as capitais brasileiras em 2024, segundo levantamento do Observatório de Mortes Violentas de LGBT+, realizado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB). Foram 14 casos na capital baiana, superando São Paulo, que teve 13 mortes, mesmo possuindo uma população quase cinco vezes maior.

O levantamento, realizado há 45 anos, revela uma discrepância preocupante: Salvador, com 2,4 milhões de habitantes (Censo 2022), apresenta índices proporcionalmente mais altos que São Paulo, que conta com cerca de 12 milhões de moradores.

Para Luiz Mott, antropólogo e fundador do GGB, a falta de políticas públicas é um fator-chave para o aumento da violência. Ele defende maior presença policial em áreas de lazer frequentadas pela comunidade LGBTQIA+.

“O Centro, a Barra e o Rio Vermelho deveriam contar com mais segurança, pois esses locais acabam sendo cenários recorrentes de ataques”, afirma.

Já o professor Horácio Hastenreiter, da Universidade Federal da Bahia (Ufba), atribui o problema a uma cultura de violência enraizada no Brasil. “Conflitos no país muitas vezes terminam em homicídio, e isso afeta a população LGBTQIA+, que já enfrenta preconceitos estruturais”, pontua.

A insegurança também afeta o cotidiano de pessoas LGBTQIA+ em Salvador. O publicitário Roberto Júnior, de 31 anos, descreve como a violência molda suas ações. “Evito dar as mãos ao meu parceiro em lugares públicos e me sinto desconfortável em áreas pouco movimentadas. O medo está sempre presente”, relata.

Luiz Mott defende ações educativas nas escolas para promover o respeito à diversidade, além de reforçar o sistema de justiça para punir agressores e incentivar denúncias.

O Centro Municipal de Referência LGBT+ Vida Bruno, localizado no Rio Vermelho e administrado pela Secretaria da Reparação (Semur), oferece atendimento e assistência à comunidade. Durante o Carnaval, o município também opera o Observatório de Discriminação Racial, LGBT e Violência Contra a Mulher, que registrou 4.635 ocorrências em sua última edição.

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