As fichas de Lula para levar o PT de volta ao poder são os evangélicos. O ex-presidente acredita que goza de simpatia da liderança e dos fiéis, e se define como a pessoa que ocupou o cargo mais alto da República que mais respeitou esse segmento. A declaração foi dada em uma entrevista aos jornalistas simpatizantes da esquerda Juca Kfouri, Talita Galli, e José Trajano.
A fixação por restabelecer um diálogo com os evangélicos foi reiterada na entrevista à TVT – ligada ao Partido dos Trabalhadores – e o ex-presidente disse que considera ter um “jeitão de pastor ou padre” e que está determinado a “conversar com essa gente”.
“Eu acho que tem um espaço pra discutir religião nesse país muito grande. Eu quero entrar nessa. Eu tenho até um jeitão de ser pastor, tenho um jeitão, tô de cabelo branco… Eu posso ser pastor ou pode ser padre, é só a Igreja [Católica] acabar com o celibato que eu topo, afirmou Lula, fazendo piada com o dogma do Vaticano.
Sobre os evangélicos, Lula disse que considera seu governo como o que manteve melhor relação com as lideranças evangélicas. Em seu raciocínio, omitiu as declarações em que tripudiava dessas mesmas lideranças. “Eu quero que você vá perguntar pro seu Edir Macedo, pro seu Crivella quem é que tratou eles melhor, quem é que tratou eles com mais respeito e mais decência”, afirmou.
Em trecho da entrevista, disse que a fila atual que o trabalhador enfrenta no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) ao dar entrada à aposentadoria é algo no qual ele poderia sugerir soluções ao atual governo, novamente omitindo que a fila não foi formada em 2019, e sim, ao longo dos anos em que Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB) ocuparam o Palácio do Planalto.
A fixação de Lula por se reaproximar dos evangélicos ignora, por exemplo, as barreiras naturais do diálogo. O plano de governo apresentado pelo PT em 2018, quando ele pleiteava a candidatura da prisão, falava em descriminalização do aborto e das drogas.
A proposta foi mantida quando Fernando Haddad assumiu o posto de candidato do partido, e é uma bandeira que o próprio PT não abre mão, assim como não reconhece os escândalos de corrupção atrelados à legenda.
“Eu vou conversar com essa gente outra vez, o PT precisa conversar. O PT tem muita gente evangélica. O que não dá é pra você ficar quieto, o que não é uma pessoa contar uma mentira a teu respeito e você fingir que não viu. Tem que ir pra cima, com respeito, mas tem que ir pra cima”, disse Lula.
A decisão de “ir pra cima” foi demonstrada com críticas a pastores evangélicos, principalmente neopentecostais: “Eu vejo a agressividade que os pastores falam em alguns programas de televisão, é uma coisa muito agressiva, é quase que uma coisa violenta. Você pede dinheiro pra pessoa de uma forma agressiva, você promete um milagre pra pessoa de forma agressiva, aí se não acontece um milagre, ainda assim, é você que é culpado, porque você não tem fé. Que história que é essa?”.
Nas redes sociais, diante da repercussão da entrevista, o ex-presidente minimizou a ênfase dada à ideia de recorrer aos evangélicos para tentar reerguer seu partido: “Eu não faço distinção de católico, evangélico, de ateu. Eu falo com seres humanos. E eu duvido que algum presidente tenha respeitado mais os evangélicos que eu, com mais respeito e mais decência. O Estado segue sendo laico”.
Por Tiago Chagas / Gospel +